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Crítica: ‘Oppennheimer’, um longa difícil de digerir, mas brilhante

Na mitologia grega existe a história do titã Prometeu. Ele roubou o fogo de Zeus e deu para os mortais. Como punição, Prometeu foi condenado a ficar preso eternamente em um rochedo onde todo dia uma águia devorava o seu fígado, que se regenerava durante a noite para que isso se repetisse eternamente. A alusão desse mito a Julius Robert Oppenheimer é válida, pois ele foi o responsável para dar aos homens o conhecimento para se destruírem. Tudo muito poético e real, pois a história mostra como ele foi de herói a vilão. É com essa comparação que ‘Oppenheimer’ começa e já nos mostra que essa é uma das obras mais impactantes do ano.

Sinopse

‘Oppenheimer’ é um filme histórico dirigido por Christopher Nolan que conta a história de J. Robert Oppenheimer, aqui, vivido por Cillian Myrphy (Peaky Blinders). Ele é baseado no livro ganhador do Prêmio Pulitzer, ‘Prometeu Americano: O Triunfo e a Tragédia de J. Robert Oppenheimer’. Acompanhamos Oppenheimer em boa parte da sua vida, desde o início de sua carreira, passando pelo maior projeto de sua vida que seria a criação da bomba atômica, até o julgamento moral sobre tudo o que ele fez a favor da ciência e contra a humanidade.

Um longa difícil

Adianto que esse filme é muito bom, porém, ele é bem difícil. Demorei dois dias para tentar digeri-lo para escrever essa resenha e ainda assim, não sei se conseguirei passar todas as impressões da forma certa. Ele tem muito material para se discutir durante páginas e páginas de resenha, mas preciso ser o mais sucinto possível. Dito isso, posso dizer que essa é uma das obras mais impactantes do ano, e tudo isso graças a uma boa direção, junto com um roteiro intrincado, uma edição que deve ter sido um caos para montar, e o elenco que atua de forma magistral, sem excluir ninguém. E olha que esse elenco é gigantesco.

A beira da extinção

O panorama que esse filme nos traz é assustador. Saber que ficamos a beira do fim do mundo é muito enlouquecedor. A ignição da bomba atômica teria uma chance quase zero de não acabar com o mundo. Deu “tudo certo”, mas essa chance ainda existe e convivemos até hoje com essa possibilidade. Ele nos faz pensar sobre isso e acaba deixando a sua narrativa pesada e bastante séria. É como se reproduzíssemos um evento estelar na porta de nossas casas. Com estrelas a bilhões de anos-luz estamos salvos, mas e se for feito a mesma ideia na nossa vizinhança? Genialidade e uma irresponsabilidade que andam de mão dadas e que torcemos para nada dar errado.

Roteiro bem intrincado

Além desse viés científico, o roteiro se atrela muito a política. A corrida contra nazistas e posteriormente contra os soviéticos pela bomba atômica nos empolga pelo jeito que o filme é contado e montado. Temos a guerra fria contra o comunismo e também temos a “sorte” de que Hitler sucumbiu a seu ódio pelos judeus, o que fez atrasar demais o seu projeto nuclear, já que a maioria dos cientistas eram judeus. A iminência do teste da bomba atômica nos deixa nervosos e ficamos na ponta do pé até vermos um momento histórico reproduzido na tela. Tudo com uma estrutura narrativa densa e com muitos cortes.

Sala de edição caótica

Eu fiquei maluco pensando em como deve ter sido essa sala de edição. O filme não é nem um pouco linear, ele mostra passado e futuro sem muitas explicações e nós temos que criar essa linha do tempo mentalmente. No início, pode deixar qualquer um confuso, mas aos poucos essa ligação é feita de modo natural e vão se juntando de uma forma bem orgânica. Além disso, devemos simplesmente aceitar as explicações que nos dão em tela. As vezes, elas chegam aos montes e absorver tudo isso de uma vez pode dar uma dor em sua cabeça. Só aceite e siga adiante.

Christopher Nolan

Christopher Nolan pode ser considerado um diretor megalomaníaco. Ele é um profundo amante do cinema e acredito que, por vezes, se acha o grande salvador da 7º Arte. A verdade é que ele sabe como fazer um bom filme. Nem todos vão gostar, mas nunca poderemos dizer que ele é ruim no que faz. Já sou um fã dele faz tempo, e um filme evento como esse só faz corroborar a sua grandeza atual em Hollywood. Torço para que venham mais filmes como esse.

Elenco grandioso

É inacreditável o nível desse elenco. Temos os nossos principais personagens que brilham por ter mais tempo em tela, mas temos uma gama de outros personagens históricos que fazem algumas pontas de ouro com passagens rápidas, mas sempre icônicas. Pensei em enumerá-los, mas prefiro deixar que tenham as surpresas da mesma forma que tive. Esse é o nível que chegou Christopher Nolan, a ponto de todos os atores de Hollywood quererem trabalhar com ele.

Conclusão

Recomendo fortemente que vejam esse filme no cinema e na melhor sala possível. A que tiver melhor imagem e melhor som, pois isso faz a diferença. Eu vi na sala IMAX e ver aquela explosão em uma tela gigante é de conquistar o mais cético. Não se engane, está muito longe de ser um filme de ação. Esse é um thriller político que vai te empolgar com roteiro e atuações, mas não por ter ação. E estamos falando de 3 horas de projeção. Saibam bem o que está indo ver para não chegar ao final, dizendo que não foi nada do que esperava.

‘Oppenheimer’ estreia exclusivamente nos cinemas em 20 de julho.

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