A Mais Preciosa das Cargas é um longa-metragem de animação franco-belga que marca a estreia do diretor Michel Hazanavicius (O Artista) no mundo das películas animadas. A história é adaptada do conto A Mercadoria Mais Preciosa do escritor francês Jean-Claude Grumberg, que também colaborou no roteiro do filme. O filme chamou a atenção por ter sido selecionado para a competição principal no Festival de Cannes 2024, onde foi reconhecido pela crítica. Embora seja uma animação, ela não é feita para crianças. Possui um tema adulto e se passa em um terrível cenário durante a 2º Guerra Mundial, onde podemos ver o pior e o melhor do ser humano.
Sinopse
Em tempos sombrios de guerra, nas profundezas de uma vasta floresta, um humilde casal de lenhadores luta para sobreviver à fome e ao frio implacável. Sua existência precária sofre uma reviravolta inesperada quando a esposa encontra, à beira dos trilhos por onde passam trens carregados, um bebê jogado para fora de um dos vagões. A chegada inesperada da menina transforma para sempre a vida do casal e daqueles que se cruzam em seu caminho, revelando tanto a crueldade quanto a inesperada bondade que reside no coração humano em meio a circunstâncias extremas e dolorosas.
O horror do Holocausto
Esse filme é muito simples e ao mesmo tempo consegue ser complexo devido a sua temática capaz de carregar um peso emocional profundo. Sua técnica de animação não é uma daquelas que salta aos olhos, mas em sua simplicidade consegue transmitir tudo o que é preciso. O holocausto é abordado sem cenas gráficas muito grandes, e nem precisa. A intenção e expectativa do que vai ser mostrado já são fortes o suficiente, pois entendemos o que está querendo ser abordado. Chaminés em alto vapor, pessoas em estado de magreza carregando coisas pesadas (corpos), ações desesperadas das quais nunca tomaríamos, se não tomadas pelo desespero, já nos dão ideia de todo esse horror.
A carga mais preciosa
Nesse cenário é que somos apresentados à tal “carga mais preciosa” do título. Simplesmente um bebê que foi jogado de um vagão à própria sorte na esperança de ter um destino melhor do que os passageiros desse mesmo trem. O desespero dessa pessoa aliado à sorte dessa criança faz com que uma mulher comum que vive de forma precária a pegue para criar, mesmo que isso custe a sua vida. O amor em tempos de morte e ódio é visto como uma fagulha de esperança em meio a tantas coisas ruins. Ninguém é todo ruim que não haja algo de bom e vice-versa. Esses aspectos humanos se sobressaem em tela e vão guiando o destino dessa criança que estava fadada a morte certa.
O destino pregando suas peças
A narrativa desse longa não é seu ponto forte. Achei o desenvolvimento lento até mesmo pelo tempo de projeção que é curto com apenas 81 minutos. Muito tempo para introspecção e poucos diálogos que fazem a história evoluir. Mesmo devagar as coisas acontecem e nesse curto período consegue nos emocionar em vários momentos. Mas, o que mais me pegou foi nos seus momentos finais quando o destino prega uma peça irônica aos personagens. Um encontro que qualquer pessoa julgaria impossível acontece sem nem saberem a verdadeira identidade de cada um. Dói o coração ao mesmo tempo que as coisas estão do jeito que deveriam estar. Lindo, poético e emocionante.
Conclusão
A Mais Preciosa das Cargas é um filme daqueles que poderia ter sido facilmente indicado ao Oscar ou para alguma premiação do tipo. Não possui uma técnica apurada ou inovadora, mas possui uma história poderosa capaz de emocionar qualquer um. Seu cunho é adulto e não é indicado para crianças. Infelizmente, prevejo que essa obra só será apreciada por um pequeno nicho e suas cópias ficarão relegadas apenas a cinemas de arte. Uma pena, pois sinto que merecia mais do que isso.
A Mais Preciosa das Cargas estreia nos cinemas em 17 de abril.