Quando começamos a ver ‘O Debate‘ um pequeno aviso nos é dado: “qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência”. Ele fala “coincidentemente” do nosso período atual. Na verdade, ele engloba tudo o que aconteceu nos últimos dois anos em nosso país. Do início da pandemia até o futuro próximo da eleição que entraremos em breve. A data de seu lançamento foi escolhida por agora justamente para pegar todo esse fervor. Ele chega para ser polêmico e digo mais, ele vem para debater, com o perdão do trocadilho.
Sinopse: “Os jornalistas Paula (Debora Bloch) e Marcos (Paulo Betti), que acabaram de se separar depois de 20 anos juntos, discutem como devem conduzir a edição dos melhores momentos do debate que o canal vai exibir – e que pode interferir na escolha de centenas de milhares de eleitores indecisos. Paula e Marcos têm opiniões divergentes, mas continuam amigos e parceiros de trabalho. O filme invade a intimidade do casal que, em tempo real e em flashbacks, discute sobre amor, liberdade, política, democracia, jornalismo e a vida do país nos últimos anos, abordando temas como monogamia, sexo, desejo, ciúme, ética e ideologia.”
Ele já começa colocando o dedo na ferida e falando várias verdades que para alguns é difícil de escutar. Sabemos exatamente de quem estão falando e fica claro o posicionamento político escolhido pelos roteiristas. Apesar disso, ele ainda abre um caminho para o tal debate. Ponto e contraponto é desferido sem respiro do início ao fim. Muitas verdades engasgadas são tacadas e ainda assim, um contra argumento, até um certo ponto plausível, é mandado de volta.
‘O Debate’ do título pode ter vários significados dentro do longa. O mais óbvio é o debate presidencial. Ele não é mostrado, mas fica respingando do início ao fim em como realmente poderá ser em nosso breve futuro. Outro significado dele é justamente o mais simples e o mais mundano: as conversas do dia a dia. Tudo pode ser motivo para um debate. Um casamento, sexo, aborto, posse de armas e por aí vai. É nesse ponto que acho que o filme brilha como um todo.
Durante a projeção uma pergunta se vê importante: “você quer convencer alguém ou você quer ser convencido?”. Isso é determinante para o que vemos durante o filme e até mesmo podemos levar para nossas vidas. O roteiro é muito competente nesse ponto. Ele não para e vai de um ponto ao outro sem deixar cair a peteca. Todo o seu texto me lembrou demais a de uma peça. Dois atores proferindo texto e mais texto tentando nos mostrar as diversas faces de dois lados antagônicos. Não me refiro apenas a política.
Para um roteiro desse porte era preciso dois atores que mandassem muito bem. Debora Bloch e Paulo Betti dão um show de interpretação aqui. Poderia definir ela como a paixão e ele como o cérebro. Ela sempre coloca argumentos pensando com a emoção e ele sempre responde como uma pessoa que pensa com a razão. Embora eles pareçam antagonistas um do outro, não é essa a verdade. Eles se amam a um nível que alguns podem não entender e isso é o que deixa o fervor da conversa entre os dois sempre lá em cima. Entre eles não existe o certo e o errado, apenas complementos de ideias.
É muito difícil escrever sobre política sem pender para um lado ou outro. Nossas opiniões são particulares e é impossível não reagir a uma ideia que você ache absurda. Aqui ele tenta mostrar que duas pessoas com pensamentos diferentes podem coexistir no mesmo ambiente e até mesmo a se amar dessa forma. Em um país completamente polarizado como estamos atualmente, isso pode acabar sendo uma mera ficção. O mais importante é o debate que ele quer propor.
Essa é a primeira vez do ator Caio Blat na direção e posso dizer que ele fez algo bastante competente. Sem exageros. Ele consegue contar a história de um jeito direto e sem enrolação.
Recomendo que todo brasileiro o veja. Seja para ficar com raiva, seja para afirmar que as coisas são como mostradas nele.
‘O Debate’ estreia exclusivamente nos cinemas brasileiros em 25 de agosto.