Pecadores é um novo filme de terror sobrenatural de época que explora a pureza da música e o tenso período de segregação racial entre brancos e negros. Dirigido e roteirizado por Ryan Coogler (de ‘Pantera Negra’ e ‘Creed: Nascido para Lutar’), o filme marca a quinta parceria do diretor com Michael B. Jordan, que interpreta gêmeos nesta história, vivendo dois personagens distintos. A princípio, essa mistura de gêneros me confundiu, pois não sabia o que esperar exatamente dele. Quando os eventos se desenrolam e o terror se instaura, essa mistura começa a fazer sentido. Se fosse apenas um filme de época, já seria interessante; o elemento sobrenatural adiciona um tempero que poderia fazer falta em algum momento.
Sinopse
Ambientado no sul dos Estados Unidos da década de 1930, Pecadores acompanha os irmãos gêmeos Smoke e Stack (interpretados por Michael B. Jordan), que retornam à sua cidade natal em busca de um recomeço após vidas turbulentas. No entanto, logo descobrem que um mal sobrenatural ainda maior espreita na região. Em meio às tensões da era Jim Crow, à rica cultura e música da comunidade negra local e a indícios de elementos de vampirismo, os irmãos precisam confrontar essa sinistra ameaça que assola a cidade.
Influência de Um Drink no Inferno?
Não sei se houve alguma inspiração direta ou indireta, mas o clima e a tensão deste filme me lembram muito Um Drink no Inferno (1996). Dois irmãos à margem da lei vão parar em um bar com muita bebida, música e pessoas procurando se divertir. Logo, o sobrenatural surge e transforma-se em um longa sobre sobrevivência. Embora ambientados em épocas diferentes e com uma profundidade maior, é inegável que haja um paralelo entre essas duas obras. Se Um Drink no Inferno nos apresenta quase uma galhofa, aqui, em Pecadores, as nuances se revelam através de várias camadas que é possível explorar por um bom tempo.
Mudança drástica no gênero
O longa começa de forma muito envolvente. A ideia dos gêmeos de montar um novo lugar para divertimento é facilmente aceita, mesmo que os produtos sejam de origem duvidosa. O drama local e de época já seria suficiente para proporcionar um bom filme. Acredite, os bons diálogos, o bom desenvolvimento, as boas interpretações e a profundidade do momento vivido já teriam valido o ingresso. A cereja do bolo surge com a chegada de vampiros atraídos pela música local. Para alguns, essa chegada pode atrapalhar o que estava sendo construído, mas é inegável que a carga dramática aumenta e muitas questões são colocadas à prova graças a esse novo elemento. Se o filme já era bom, nesse momento as coisas melhoram, mesmo que causem um estranhamento inicial.
O blues como condutor
O maior trunfo deste longa é a música, mais precisamente o blues. Ele conduz a história, e qualquer acorde já nos deixa colados na cadeira. Aqui, ele tem uma função maior do que apenas dar o ritmo. O blues atrai os vampiros, e explica-se que é usado para quebrar o véu entre o normal e o sobrenatural, além de ligar o passado, o presente e o futuro. Isso proporciona um dos momentos mais incríveis do cinema nos últimos anos. Na sequência em que isso é revelado, somos levados a uma viagem junto com a câmera para um mundo incrível, sendo guiados pela música. Após isso, o inferno toma conta de tudo. Os momentos musicais (calma, não se trata de um musical) são pontos altos da trama e ditam o ritmo do desenrolar da história.
Conclusão
Pecadores é um bom filme para quem aprecia um drama sobrenatural com ação e terror. A direção de Ryan Coogler é realmente um diferencial que nos imerge na história. As atuações também são ótimas, e a ambientação nos faz acreditar que aquele cenário possa existir. Michael B. Jordan em dose dupla também é um destaque à parte. Vale mencionar que ele está incrível como os dois irmãos. A cena que mencionei sobre a explicação sobrenatural do blues é um divisor de águas para o longa e está entre os momentos mais incríveis que vi no cinema recentemente. Notei alguns erros de continuidade mais para o final, mas isso não afeta o todo. Abra a mente e curta ao máximo.
Pecadores estreia nos cinemas em 17 de abril.