Ripley é uma nova minissérie que chegou há pouco no catálogo da Netflix. Essa é a sexta versão do personagem que ficou mais conhecido pelo filme (1999), estrelado por Matt Damon (Perdido em Marte), Jude Law (Closer: Perto Demais) e Gwyneth Paltrow (Shakespeare Apaixonado). Essa nova versão ainda é baseada no livro escrito por Patricia Highsmith em 1955, The Talented Mr. Ripley. Agora, o responsável é Steve Zailian que tomou a frente do roteiro e direção dos 8 episódios. Vale ainda mencionar que Steve já venceu o Oscar, Bafta e Globo de Ouro por Melhor Roteiro com o filme A Lista de Schindler (1993). Ou seja, o projeto estava em boas mãos e posso adiantar que essa produção é excelente em todos os detalhes.
Sinopse
Tom Ripley (Andrew Scott) é um golpista que sobrevive de pequenos golpes em Nova York no início dos anos 60. Ao ser encurralado, se vê obrigado a aceitar um novo trabalho para um ricaço: ir até a Itália e convencer o filho deste, Dickie Greeleaf (Johnny Flynn), a voltar para casa. Esse é só o início de uma grande teia de mentiras que envolverá decepções, fraudes e assassinatos, onde a maior pedra no seu sapato pode ser Marge Sherwood (Dakota Fanning), a namorada de Dickie.
O trabalho árduo do roteiro
Toda vez que acompanhamos um protagonista com sérios problemas morais e éticos, nesse caso, completamente inescrupuloso, psicopata e salafrário, fica difícil ter empatia e comprar sua briga. Muitas vezes, no decorrer da história essa pessoa vai alcançando a redenção a ponto de gostarmos dela. Mas o personagem de Thomas Ripley é odioso do início ao fim. Então, como um roteiro dessa minissérie consegue que fiquemos vidrados tanto em um personagem? O jogo de gato e rato que começa, que não é nada menos que brilhante, é importantíssimo que ocorra em uma época sem grandes tecnologias, pois se fosse nos dias de hoje, Tom Ripley não teria muita chance. Por isso os anos 60 foram escolhidos para essa história. Além disso, a fotografia em preto e branco nos remete aqueles filmes noir de mistério e assassinatos clássicos do gênero não tanto explorado nos dias de hoje.
Como torcer para um homem odioso?
Mas voltando a falar do roteiro. É impossível gostar de nosso protagonista, mas a engenhosidade do roteiro nos deixa instigado com o que vai acontecer em seguida. Queremos que Ripley seja preso, mas o roteiro é engenhoso a ponto de torcermos por ele. É impossível não ficar nervoso quando o cerco começa a fechar. A iminência de ser descoberto te deixa com os cabelos em pé, e um ódio e um alívio nos percorre quando, mais uma vez, o personagem consegue escapar de mais uma situação impossível. Aí quando junta esse roteiro magistral com uma direção competente, junto com atuações ótimas, temos um produto em quase estado de perfeição.
A série começa devagar, mas melhora muito
Pode ser que e a minissérie não consiga fisgar o público de primeira. Os dois primeiros episódios funcionam mais como introdução dos personagens e não acontece muita coisa de importante, mas dá o tom do que iremos ver a seguir. As coisas começam a pegar fogo no Episódio 3, que já considero um clássico moderno. Toda a sequência que se inicia no barco e se sucede até o final do episódio é simplesmente nota 10. O Episódio 5 também nos dá uma ideia magistrosa e psicopata de Ripley que ficamos nas pontas dos pés. O último episódio também nos traz um nervosismo em que só vemos um tipo de final, mas o roteiro novamente nos leva para um caminho inesperado. Detalhe para a última cena que desbarata simplesmente tudo o que foi construído antes.
Conclusão
Nem todos conseguirão apreciar essa bela minissérie, mas para os amantes do suspense e do noir, irão simplesmente amar. Os fãs de anos do personagem certamente vão se deliciar com Andrew Scott (Fleabag) no papel. Vale mencionar uma participação de John Malkovich que não por acaso também já foi uma das versões de Thomas Ripley no filme O Retorno do Talentoso Ripley (2002). Inclusive, uma pequena piada é feita sobre isso. Ripley foi concebida como uma minissérie, mas o criador Steve Zailian não descarta uma futura continuação. Já digo que amaria ver uma outra história nesse nível.