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Crítica: A Substância, é o body horror do ano

A Substância está sendo responsável por um fenômeno raro em nossos cinemas. Estreou em 19 de setembro em poucas salas. O boca a boca em cima dele tem aumentado semana após semana forçando os cinemas a aumentarem as exibições do filme. Geralmente, estreiam, diminui a procura e sai de cartaz. Aqui, estreou em poucas salas e tem aumentado o seu número devido a procura por ele. Curioso e merecido. Esse filme vale todo o falatório em cima, seja para o bem ou para mal. Não tem jeito de sair da sessão com zero impacto. Deixou de ser um mero filme para ser um evento e experiência cinematográfica. Pontuo como uma das melhores obras do ano.

Sinopse

Uma vez muito famosa na indústria hollywoodiana, Elisabeth Sparkle (Demi Moore) é demitida de seu programa de TV por ser “velha demais”, no caso, 50 anos. Em crise, recorre a um sinistro programa de aprimoramento corporal. A substância milagrosa promete rejuvenescê-la, mas resulta em uma transformação ainda mais radical. Ela agora precisa dividir seu corpo com Sue (Margaret Qualley), sua versão jovem e melhorada e, aos poucos, começa a perder completamente o controle da própria vida. Em um pesadelo surreal sobre a busca incessante pela juventude, A Substância revela o preço oculto da perfeição.

Domínio na direção de Coralie Fargeat

A diretora Coralie Fargeat (Vingança) sabe muito bem o que está fazendo. O seu domínio na mensagem que ela quer passar é muito preciso. No início, já vemos uma história de ascensão e declínio sendo contada sem grandes diálogos com uma câmera estática de modo brilhante. Desde então, ela sempre busca dar muitos close up para sentirmos um pouco de ojeriza das pessoas em volta, principalmente dos homens. Não existe um que seja legal, todos são extremamente babacas e péssimos exemplos. Isso fortifica a busca da beleza e da juventude eterna de nossa protagonista, mas nada que vem de graça é exatamente uma dádiva de Deus.

Nem tudo que vem fácil é exatamente bom

A cultura da beleza é perigosa e a vaidade definitivamente é o nosso pior pecado. Nada melhor do que ser elogiado por ser lindo e jovem. Esse é o perigo do uso da tal substância. Fica claro que elas são uma só, mas o vício da beleza põe tudo a perder. Uma bola de neve sem precedente vai se formando e o que era belo começa a ser transformar em uma monstruosidade inominável. O egoísmo de uma afeta a outra, mesmo que elas sejam a mesma pessoa.

Inspiração em David Cronenberg

David Cronenberg (A Mosca) certamente foi uma inspiração e isso afeta o público de uma forma não esperada. Se estávamos vendo um longa criticando essa cultura da beleza, logo depois adentramos em um horror inimaginável que os mais sensíveis não terão estômago para suportar. A manipulação com o público é perfeita. Se odiou, a mensagem fez efeito, se amou, também teve efeito. O incômodo faz parte e por isso o chamei de uma experiência cinematográfica. Não estamos incólumes ao que estamos vendo. Somos impactados diretamente por tudo. Pena, ojeriza, vontade de rir, se expressar em voz alta, horror, tudo isso faz parte do sentimento em seu ato final. Pode não ser o teu tipo de filme, mas certamente terá um impacto por um tempo em você.

Atuações de alto nível

Demi Moore (Ghost: Do Outro Lado da Vida) é uma escolha muito acertada. Digo isso por mais de um motivo. Um é que a própria atriz passou por diversos procedimentos estéticos durante os primeiros anos de sua carreira até o seu auge. Esse por sinal foi um dos motivos de ter sido escalada para o papel mesmo que não fosse a principal candidata. O segundo motivo é que ela está atuando como nunca. Posso dizer sem medo que ela está perfeita e essa possa ser a grande atuação de sua vida. Ganhar algum prêmio por ele não seria exagero. Margaret Qualley (Pobres Criaturas) não deixa nada a desejar e também arrasa como Sue. As duas se completam e dão um show em tela. Dennis Quaid (Longe do Paraíso) completa o elenco principal e nos dá a imagem de tudo o que é nojento em um homem. É um contraponto perfeito de nossa protagonista.

Conclusão

Não a toa, A Substância foi ovacionado em Cannes. Sua passagem por lá lhe rendeu o prêmio de Melhor Roteiro. A sua ideia é muito boa e a escalada ao horror é perfeita e minuciosa. Certas dúvidas não são sanadas. Alguns podem ver como furo de roteiro, mas eu preferi pensar que esses pormenores não importavam de fato. Essa obra não deixa de ser uma fábula sobre a beleza da juventude e a perda desse glamour quando envelhecemos. A indústria e as pessoas podem ser cruéis e esse diálogo é feito de uma forma genial e marcante. Posso taxá-lo desde já como o body horror do ano. Aplaudo de pé banhado de litros de sangue.

A Substância está em cartaz nos cinemas.

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